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sábado, 24 de dezembro de 2011



O humor também pode nos ajudar a refletir!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Prática de uma religião




Pessoas que vêm a centros Zen com frequência estão perturbadas por suas experiências anteriores com religião. O significado original da palavra “religião” é interessante: vem do latim “religare”, que significa “ligar novamente, ligar homem e os deuses”. [...]
O que estamos ligando? Antes de tudo, ligamos nosso ser a ele mesmo — porque até dentro de nós mesmos estamos separados. E nos ligamos aos outros; e, eventualmente, a todas as coisas, sencientes e não sencientes. E ligamos os outros aos outros. Tudo que não estiver ligado é nossa responsabilidade. Mas na maior parte do tempo nossa tarefa é nos ligar ao nosso colega de quarto, ao nosso trabalho, nosso companheiro(a), filho ou amigo, e então nos ligar ao Sri Lanka, ao México, a todas as coisas neste mundo e neste universo.
Ah, isso soa bem! Mas na verdade não vemos com frequência a vida dessa maneira. [...] As pessoas sempre me perguntam: se essa unidade fundamental é o estado real das coisas, por que quase nunca é vista? Não é por falta de dados científicos; conheço muitos físicos que têm o conhecimento intelectual, mas o modo como lidam com a vida não reflete esse conhecimento.
A causa principal da barreira, e o motivo principal porque falhamos em ver aquilo que já é, é nosso medo de sermos machucados por aquilo que parece separado de nós. [...] É triste, mas alguns de nós morrem sem ter vivido, porque estamos obcecados em tentar não nos machucar. [...]
Se realmente quisermos ver a unidade fundamental, não apenas uma vez, mas na maior parte do tempo — que é o que a vida religiosa é — nossa prática primária [...] é com a chamada “barreira do pensamento-emoção”. Significa que quando algo parece nos ameaçar, reagimos. No minuto que reagimos, surge uma barreira e nossa visão fica nublada. Como a maioria de nós reage a cada cinco minutos, é óbvio que na maior parte do tempo a vida está nublada para nós. [...] Nossa prática primária é com essa barreira. Sem essa prática, sem compreensão sobre tudo que entra e sai das barreiras que construímos — o que não é fácil — permanecemos escravizados e separados.
[...] mas quando não há sujeito ou objeto, a barreira do pensamento-emoção cai e pela primeira vez podemos ver claramente. Quando podemos ver, sabemos o que fazer. E o que faremos será amor e compaixão. A vida religiosa pode ser vivida.
Enquanto não nos sentirmos abertos e amáveis, nossa prática está ali nos esperando, e já que na maior parte do tempo não nos sentimos abertos e amáveis, devemos praticar meticulosamente. Essa é a vida religiosa; isso é que é “religião” — embora não precisemos usar tais palavras. É a reconciliação das pessoas e seus conceitos separados, a reconciliação de nossos pontos de vista sobre como deve ser, como as pessoas devem ser, a reconciliação com nossos medos. A reconciliação de tudo que é experiência… de quê? De Deus? Daquilo que simplesmente é? A vida religiosa é um processo de reconciliação, segundo a segundo.
E cada vez que atravessamos essa barreira algo muda dentro de nós. Com o tempo nos tornamos menos separados. E isso não é fácil, porque queremos nos agarrar ao que é familiar: ser separado, ser superior ou inferior, ser “alguém” na relação com o mundo. Uma das marcas da prática séria é estar alerta e reconhecer quando a separação está ocorrendo. No minuto em que surgir a ideia — mesmo que só de passagem — de julgar outra pessoa, a luz vermelha da prática deve acender.
Todos fazemos algumas ações danosas de que não temos consciência. Mas quanto mais praticarmos, mais veremos aquilo que antes não podíamos ver. Isso não significa que iremos ver tudo — sempre há algo que não podemos ver. E isso não é bom nem ruim; é apenas a natureza das coisas.
Então prática não é só vir a retiros ou meditar toda manhã. Isso é importante, mas não suficiente. A força de nossa prática, e a habilidade de comunicá-la aos outros, depende de sermos nós mesmos. Não precisamos tentar ensinar os outros. Não precisamos dizer uma única palavra. Se nossa prática for forte ela se mostra o tempo todo. Não precisamos falar sobre o Dharma; o Dharma é simplesmente aquilo que somos.

sábado, 27 de agosto de 2011

Contar com a vida



Começamos a aprender que há apenas uma coisa na vida com a qual podemos contar. Com o que podemos contar? Poderíamos dizer: “Posso contar com meu parceiro(a)”. Podemos amar nossos maridos e esposas; mas jamais poderíamos depender completamente deles, porque uma outra pessoa (como nós mesmos) é sempre, de alguma maneira, não confiável.
Não há pessoa na terra com quem podemos contar completamente, embora possamos certamente amar e apreciar os outros. No que então podemos confiar? Se não é uma pessoa, o que é? Com o que podemos contar na vida? Perguntei isso a alguém e ela disse: “Comigo mesma”. Você pode contar consigo mesma? Depender de si é bom, mas é inevitavelmente limitado.
Há uma coisa que você pode sempre contar: que a vida seja como ela é. Vamos falar mais concretamente. Suponha que há alguém que eu queira demais; talvez queira casar com tal pessoa, ou obter um diploma avançado, ou que meus filhos sejam saudáveis e felizes. Mas a vida como ela é pode ser exatamente o oposto daquilo que desejo.
Não sabemos se vamos casar com tal pessoa. Se casarmos, ela pode morrer amanhã. Podemos ou não conseguir nosso diploma. Provavelmente conseguiremos, mas não podemos contar com isso — não podemos contar com nada. A vida sempre vai ser do jeito que é. Então por que não podemos contar com isso? O que há de tão difícil aí? Por que estamos sempre desconfortáveis? Imagine que sua casa acabou de ser destruída por um terremoto, e você está prestes a perder seu braço e todas suas economias. Você pode contar com a vida como ela é? Poderia fazer isso?
Confiar nas coisas como elas são é o segredo da vida. Mas não queremos ouvir isso. Posso confiar absolutamente que no ano que vem minha vida mudará, será diferente, apenas exatamente do jeito que é. Se amanhã eu tiver um ataque cardíaco, posso contar com isso, porque se eu tiver, terei. Posso repousar na vida como ela é.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Casa Arrumada



Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.




quarta-feira, 13 de julho de 2011

Renunciar ao apego, não ao mundo



Como um seguidor de Sidarta [Buda], você não precisa imitar cada ação dele — não precisa fugir enquanto sua esposa está dormindo. Muitas pessoas pensam que o budismo é sinônimo de renúncia, deixar a casa, família e emprego para trás para seguir o caminho de um asceta.
Essa imagem de austeridade se deve em parte ao fato de que muitos budistas reverenciam os que mendigam, nos textos e ensinamentos budistas, assim como cristãos admiram São Francisco de Assis. Não podemos deixar de nos comover com a imagem de Buda andando descalço em Magadha com sua tigela de mendigar, ou Milarepa em sua caverna vivendo de sopa de urtigas. A serenidade de um simples monge birmanês aceitando esmolas cativa nossa imaginação.
Mas há também um tipo totalmente diferente de seguidor de Buda: o Rei Ashoka, por exemplo, que desceu de sua carruagem real, adornado com pérolas e ouro, e proclamou seu desejo de disseminar o Buda Dharma pelo mundo. Ele ajoelhou, pegou um punhado de areia, e jurou que construiria tantas estupas quanto havia grãos de areia em sua mão. E, de fato, cumpriu a promessa.
Então, a pessoa pode ser um rei, comerciante, prostituta, viciado ou presidente de empresa e ainda assim aceitar os quatro selos*. Fundamentalmente, não é o ato de deixar o mundo material para trás que budistas valorizam, mas a habilidade de ver o apego habitual a este mundo e a nós mesmos e renunciar ao apego.
* quatro selos:
Todas as coisas compostas são impermanentes
Todas as emoções são dolorosas
Todas as coisas não têm existência própria
O nirvana está além dos conceitos

Psicologia Dialética: Simbiose no casamento


Simbiose no casamento

Adriana Tanese Nogueira

A simbiose é um conceito que pertence à biologia, e denota a associação entre dois seres que beneficia a ambos; melhor, ambos seres precisam de tal associação para continuarem vivos e produtivos. Já dá para entender como esse conceito é transportado para as relações de casal: os dois não conseguem viver um sem o outro. 

Vamos começar fazendo algumas distinções. Toda relação se constrói a partir de uma "troca" que pode parecer e, muitas vezes, é simbiótica: pais e filhos, amigos, casais e até empresas, grupos e assim em diante. Se estamos num relacionamento é porque ele nos dá algo de importante. Que esse "algo" nem sempre seja saudável são outros quinhentos. Para o sistema mental da pessoa, para seus hábitos, medos e limites, a vantagem se apresenta de alguma forma como superior aos riscos que uma possível mudança traria.
Na relação entre pais e filhos, onde aparentemente, os filhos são os que ganham mais, é bom lembrar do espaço gigantesco que estes ocupam na vida e no coração de seus pais. Além de responsabilidades e problemas, crianças oportunizam adultos que, talvez nunca teriam essa chance, de se sentirem importantes,  de estar "acima" de alguém - se amor e crescimento recíproco não fossem suficientes.

Uma segunda noção que precisamos esclarecer é a idéia de que quando se ama de verdade se tende a "não poder viver sem a outra pessoa". A atração sexual ou aquela íntima e profunda cria uma tamanha sinergia de forças que duas pessoas podem superar muitos obstáculos para estarem juntas. Por outro lado, porém, faz parte das qualidades do amor dar a força para aguentar a distância, quando ela for necessária. Distanciamento físico ou emocional podem marcar alguns momentos da relação amorosa. Porque ninguém é pronto e resolvido e  porque a vida é imperfeita, amar não equivale a ter sempre momentos agradáveis e cheios de compreensão recíproca. Portanto, o "não posso viver sem você" do pique do amor romântico é um modo de dizer que tem valor num plano simbólico, enquanto que no concreto deve fazer lugar à maduridade de saber lidar com altos e baixos e com as contradições.

O casamento simbiótico é algo diferente. Ele é o resultado, geralmente, da união entre duas pessoas durante sua juventude, quando sua referência à família de origem e, sobretudo, às feridas e faltas que esta lhes deixou estão ainda fortemente gravadas na alma, gerando anseio por preenchimento. Os pombinhos inicialmente tendem a repetir o padrão mamãe-papai, prova é que há casais que chamam uns aos outros "filho" e "filha". Se o padrão de base das relaçãoes entre homens e mulheres é o do pai-filha e o da mãe-filho, nos casais simbióticos esse modelo é levado ao extremo, e literalmente os dois não sabem estar sem o outro. Falta-lhe autonomia e independência.

A ausência de autonomia é a incapacidade de realizar atividades próprias à personalidade de cada um, e tomar escolhas que dizem respeito aos gostos de cada indivíduo. A individualidade lentamente se eclipsa e os dois formam um todo informe no qual não se distingue mais quem é quem. Se a autonmia é a capacidade de fazer coisas sozinhos, independência é aquela de ter iniciativa por si próprios. A pessoa independente não pede permissão para fazer o que sente vontade e é importante para ela. Ela própria se autoriza, seguindo seus instintos e pensamentos. No casal simbiótico, esses dois aspectos essenciais para o desenvolvimento saudável do ser humano se perdem, ou são sufocados.

O casal simbiótico é como um indivíduo com duas cabeças mas um corpo só. Mentalmente, eles continuam se sentindo diferentes um do outro, sabem reconhecer perfeitamente as falhas e qualidades de cada um, os hábitos e preferências. Mas, por baixo dessa camada consciente, existe o emaranhado de sentimentos inconscientes que eles partilham e os amarram.

O nó da meada é que eles sua união é funcional à cada um conseguir ir adiante na vida. Psicologicamente falando, uma série de projeções foi realizada sobre o outro, investindo não só sua função (por ex., trazer dinheiro para casa ou cuidar da casa), mas um nível mais profundo. O outro representa um pedaço de si, ou vários pedaços de si, ocupando um lugar tamanho e de tal relevo na vida psicológica da pessoa que, no bem ou no mal, ela não consegue fazer sem.

O problema dessa situação é que não conta com as mudanças. Apesar de tudo, a força evolutiva do ser humano é fenomenal. Nada permance igual e tudo muda. Mudamos, queiramos ou não. Mesmo numa situação psicologicamente amputada, como a do casal simbiótico, a pressão interna na direção da individuação (que implica necessariamente em maior autonomia e independência) insiste e perturba. Aquele dos dois que está "para trás", aquele no qual este processo está mais sufocado, começa a se sentir inseguro e ansioso. Aquele que está "para frente", no qual a pressão interna tem mais via livre (geralmente de forma totalmente inconsciente), sentir-se-á "sufocado" pelo modelo de relação na qual está.

A vontade interna de novas experiências vai crescendo inexoravelmente. É como um cavalo jovem, cheio de vida e relinchando, desejoso de poder galopar livre pelas pradarias. Na falta da liberdade verdadeira, que só viria evoluindo para fora desse modelo de relação, duas coisas podem ocorrer: sufoca-se mais energicamente o espírito de liberdade, inclusive com a ajuda de remédios ansiogênicos e calmantes; ou se encontra essa autonomia de forma escondida e nos espaços mais ilícitos, como traições pelos cantos, mentiras e subterfúgios.

Transformar uma situação dessa para melhor é complicado porque toda e qualquer mudança é percebida pelo casal simbiótico como ameaçadora. É como dividir gêmeos siameses, grudados pelo corpo. Há o risco da morte, que no caso do casal simbiótico é o risco de matar a relação, ou o impulso evolutivo que exige que ela seja renovada e, com ele, aniquiliar a individuação de cada um. Entretanto, adiar o processo de mudança, uma vez que as sementes já foram postas, na forma de insegurança, ansiedade, desconfiança e mentiras, promete um futuro sombrio.

O paradoxo desse tipo de relação é foi justamente graças à simbiose que ambos os indivíduos cresceram como pessoas ao ponto de sentirem agora a necessidade interior de ir além. É por causa da simbiose que hoje cada um têm condições de poder ir adiante sem ela. O tempo está maduro, é hora de virar gente grande.

Aventura Interior...: Quanto mais o sujeito tenta se aproximar de seu p...








Quanto mais o sujeito tenta se aproximar de
seu passado,
mais se afasta dele.




(freud)

Seja espontâneo


Quando age, você sempre toma por base o passado. Você vive de acordo com as experiências que acumulou, age com base nas conclusões a que chegou no passado — como pode ser espontâneo?

O passado domina e por causa dele você nem sequer consegue ver o presente. Seus olhos estão presos ao passado, a neblina do passado é tão espessa que é impossível enxergar alguma coisa. Você não consegue ver nada! Está quase cego — cego por causa da neblina, cego por causa das conclusões que tirou no passado, cego por causa do conhecimento.

O homem instruído é a criatura mais cega deste mundo. Porque ele vive com base nos conhecimentos que tem, em vez de avaliar as circunstâncias. Ele simplesmente continua vivendo mecanicamente. Aprendeu alguma coisa; isso passa a ser um mecanismo embutido dentro dele e ele age de acordo com isso.

Há aquela história bem conhecida:

Existiam dois templos no Japão, um inimigo do outro, pois sempre existiram templos ao longo das eras. Os sacerdotes desses dois templos eram tão hostis um ao outro que nem sequer se olhavam no rosto. Se se cruzassem nas ruas, simplesmente não se olhavam. Se se cruzassem na rua, paravam de conversar; havia séculos que os sacerdotes desses dois templos não se falavam.

Mas ambos tinham um garotinho — para servi-los, levar recados. Os dois sacerdotes tinham receio de que os garotos, afinal eram só garotos, pudessem ficar amigos.

Um dos sacerdotes disse ao seu menino: — Nunca se esqueça de que o outro templo é nosso inimigo. Nunca fale com o garoto do outro templo. Eles são gente perigosa... fique longe deles. Fuja deles como o diabo da cruz!

O garoto ficou curioso... porque ele já estava cansado de ouvir longos sermões. Não conseguia entendê-los. Os sacerdotes liam escrituras estranhas, ele não compreendia aquela língua; problemas profundos, existenciais, eram discutidos. Não havia ninguém com quem brincar, ninguém com quem conversar. E quando lhe diziam para não falar com o menino do outro templo, uma grande tentação brotava dentro dele. É assim que surge a tentação. Nesse dia ele não conseguiu evitar de falar com o outro menino. Quando o viu na rua, ele perguntou: — Aonde você está indo?

O outro menino era um tanto filosófico; de ouvir grandes filosofias ele ficara filosófico. Respondeu: — Indo? Não há ninguém que venha ou que vá! Isso acontece... para onde quer que o vento me leve... — Ele tinha ouvido o mestre tantas vezes que era assim que vivia um buda, como uma folha morta, seguindo ao sabor do vento. Então o menino disse: — Eu não sou nada! Não existe ninguém que faça algo, então como posso ir a algum lugar? Que bobagem é essa que você está falando? Sou uma folha morta. Vou para onde quer que o vento me leve...

O outro menino encarava-o sem entender nada. Não conseguiu sequer articular uma resposta. Não conseguia encontrar nada para dizer. Estava de fato embaraçado, envergonhado, e pensava: "Meu mestre tinha razão ao aconselhar-me a não falar com essa gente, são gente perigosa. Que conversa é essa? Só perguntei para onde ele ia. Na verdade, eu até já sabia para onde ele estava indo, pois nós dois íamos para o mercado comprar hortaliças. Bastaria dizer isso."

O menino voltou ao templo e contou ao mestre: — Me perdoe. Você me proibiu, mas eu o desobedeci. Na verdade, sua proibição aguçou minha curiosidade. Essa é a primeira vez que converso com aquela gente perigosa. Só fiz uma pergunta: "Aonde você vai?" e ele começou a dizer umas coisas estranhas: "Não existe ir nem vir... Quem vem? Quem vai? Sou o vazio absoluto", ele disse, "sou uma folha morta. E aonde quer que o vento me leve..."

O mestre disse: — Eu disse a você! Agora, amanhã fique no mesmo lugar e, quando ele passar, pergunte a ele novamente: "Aonde está indo?" Quando ele disser essas coisas, você diz simplesmente: "É verdade. Você é uma folha morta, assim como eu. Mas, quando o vento não está soprando, para onde você vai? Aonde pode ir?" Só diga isso, e ele ficará embaraçado, tem de ficar embaraçado, tem de ficar frustrado. Estamos sempre discutindo e essa gente nunca conseguiu nos vencer em nenhum debate. Então amanhã não será diferente!

O garoto acordou cedo, decorou sua resposta, repetiu-a muitas vezes antes de sair. Então ficou esperando no local onde o outro atravessaria a rua, repetindo mentalmente a resposta, ensaiando, até avistar o garoto se aproximando. Então disse: — Agora veremos!

O menino chegou mais perto e o outro perguntou: — Aonde está indo? —, com esperança de que agora ele teria sua chance...

Mas o rapazinho disse: — Aonde quer que as pernas me levem... — Não mencionou nenhum vento, não falou do vazio, nem da questão do não-fazer... E agora, o que ele faria? A resposta que decorara não ia fazer sentido. Não podia falar sobre o vento. Desacorçoado, com vergonha por ser tão burro, ele pensou: "Esse menino de fato sabe umas coisas estranhas. Agora ele disse: 'Aonde quer que minhas pernas me levem.'"

Então ele voltou a procurar o mestre. Este respondeu: — Eu disse para não falar com essa gente! Eles são perigosos! Faz séculos que sabemos disso. Mas agora é preciso fazer alguma coisa. Amanhã, você pergunta novamente: "Aonde está indo?" e, quando ele disser: "Aonde quer que minhas pernas me levem", diga a ele: "Se você não tem pernas, então...?" É preciso fazê-lo calar a boca de um jeito ou de outro.

Então, no dia seguinte, o menino perguntou outra vez onde o outro ia e esperou a resposta.

O outro disse: — Estou indo ao mercado buscar hortaliças.
As pessoas costumam viver com base no passado — e a vida continua em constante mudança. A vida não tem obrigação nenhuma de confirmar suas conclusões. É por isso que ela é tão confusa — confusa para a pessoa instruída.

A pessoa já tem todas as respostas prontas, o Bhagavad Gita, o Alcorão, a Bíblia, os Vedas. Já se abarrotou de tudo isso, sabe todas as respostas. Mas a vida nunca levanta as mesmas questões; por isso a pessoa instruída nunca acerta o alvo.

Osho, em "Consciência: A Chave Para Viver em Equilíbrio"
Imagem por ClickFlashPhotos / Nicki Varkevisser

domingo, 26 de junho de 2011





Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio.

(Freud)

domingo, 15 de maio de 2011



"A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la."

 (Bob Marley)

terça-feira, 19 de abril de 2011

“Ser amado, saber amar.”

Frases - Prof. Renato Dias Martino - “Ser amado, saber amar.”

“Não ser amado é uma simples desventura, o verdadeiro mal está em não saber amar.”


Prof. Renato Dias Martino
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sonhos e Realidades

“Crescer significa abandonar os mais queridos sonhos megalomaníacos da infância. Crescer significa saber que eles não podem ser realizados. Crescer significa adquirir a sabedoria e a habilidade para conseguir o que se deseja, dentro dos limites impostos pela realidade – uma realidade que consiste de poderes diminuídos, liberdades restritas e, com as pessoas amadas, conexões imperfeitas.”

·         Livro: Perdas Necessárias –Judith Viost  - Cap XI: Sonhos e Realidades

segunda-feira, 14 de março de 2011

A Song for the New Year

Gostaria de partilhar meu coração com vocês:


Ao longo de nossas vidas passadas, e nesta vida,
Temos vivido tantos sofrimentos
Por causa da impermanência da felicidade!

Eu não desejo que isto continue,
Eu não desejo que isto dure,
Eu não desejo que nosso futuro pareça com o passado...

De agora em diante, não será jamais o mesmo!

Eu buscarei um grande professor,
Um professor  que possa me conduzir,
Conduzir-me no caminho,
Conduzir-me até o despertar.

Um professor como um doutor,
Um leão, como uma mãe,
Como um irmão, como uma família;
Fazendo entrar o Dharma no coração de nossas vidas.

Um doutor que me dará o bom remédio,
O remédio que curará minha mente.
Um leão que me guiará, que me guiará em toda confiança.
Uma mãe que me beijará, que segurará minha mão quando os momentos serão duros,
Um irmão com quem compartilhar os bons momentos,
Para nos divertirmos juntos, uma vez que o verdadeiro Dharma será conhecido.

Eu desejo tomar conta (de todos), desejo ajudar.
Quero ajudar a todos os seres.
Ha’ tanto tempo que eles sofrem.
E todos fazem parte de minha família.

Todos os Budas, os grandes mestres,
As divindades, os protetores,
Abençoai-me com seus cuidados
Abençoai-me com sua bondade
Abençoai-me com sua sabedoria
Abençoai-me com seu amor
Abençoai-me com seu coração
Possa eu ser uma mãe para cada ser!

Quando eu vejo suas tristezas
Quando vejo sua dor
Quando constato sua miséria

Não posso estar tranqüilo, não posso relaxar.
Bodhisattvas! Venham ao meu socorro!

Neste ano novo, eu imploro a vocês,
Possa toda minha família ser feliz.
Aqueles e aquelas que eu conheço, aqueles e aquelas que eu ainda não encontrei,
Possam eles serem livres, possam eles todos serem livres !

Possa o amor se propagar a todos os lugares deste mundo!
Um amor sem apego!
Possa o amor se propagar a todos os lugares deste mundo!
Um amor sem apego!

Feliz ano novo, feliz ano novo,
Mesmo se este mundo em si mesmo é vacuidade,
Ainda assim,
Feliz ano novo, feliz ano novo!
Do fundo do meu coração,
Feliz ano novo!


*A transcrição nos foi repassada e traduzida gentilmente pela Sra. Sarah que mora na França e com ela reafirmamos os nossos votos de um ano novo auspicioso e feliz para todos os seres.


**Desejos Khyabje Kalu Rinpoche para lunar do ano novo tibetano 2011


quarta-feira, 2 de março de 2011



“Mas não podemos chegar ao amor adulto sem passar pelo infantil. Não podemos amar se não soubermos o que é o amor. Não podemos amar outra pessoa como outra pessoa se não tivermos suficiente amor por nós mesmos, um amor que aprendemos sendo amados na infância. E não podemos falar de amor, de amor infantil ou amadurecido, a não ser que estejamos preparados também para falar de ódio.”


*Trecho do livro: Perdas Necessárias – Judith Viorst



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Sucesso consiste em não fazer Inimigos



Regra número 1:
Colegas passam, mas inimigos são para sempre.
A chance de uma pessoa se lembrar de um favor que você
fez a ela vai diminuindo à taxa de 20% ao ano.
Cinco anos depois, o favor será esquecido.
Não adianta mais cobrar.
Mas a chance de alguém se lembrar de uma desfeita se
mantém estável, não importa quanto tempo passe.
Exemplo: Se você estendeu a mão para cumprimentar
alguém em 1999 e a pessoa ignorou sua mão estendida,
você ainda se lembra disso em 2009.

Regra número 2:
A importância de um favor diminui com o tempo,
enquanto a importância de uma desfeita aumenta.
Favor é como um investimento de curto prazo.
Desfeita é como um empréstimo de longo prazo.
Um dia, ele será cobrado, e com juros.

Regra número 3:
Um colega não é um amigo. Colega é aquela pessoa que,
durante algum tempo, parece um amigo.
Muitas vezes, até parece o melhor amigo.
Mas isso só dura até um dos dois mudar de emprego.
Amigo é aquela pessoa que liga para perguntar se você
está precisando de alguma coisa. Ex-colega que parecia
amigo é aquela pessoa que você liga para pedir alguma
coisa, e ela manda dizer que no momento não pode atender.

Durante sua carreira, uma pessoa normal terá a impressão
de que fez um milhão de amigos e apenas meia dúzia de
inimigos. Estatisticamente, isso parece ótimo.
Mas não é. A 'Lei da Perversidade Profissional' diz que,
no futuro, quando você precisar de ajuda, é provável que
quem mais possa ajudá-lo é exatamente um daqueles
poucos inimigos.

Muito cuidado ao tentar prejudicar um colega de trabalho;
Amanhã ou depois você pode depender dele para alguma coisa!


Portanto, profissionalmente falando, e pensando a longo prazo,
o sucesso consiste, principalmente, em evitar fazer inimigos.
Porque, por uma infeliz coincidência biológica, os poucos
inimigos são exatamente aqueles que têm boa memória.

"Na natureza não existem recompensas nem castigos. Existem conseqüências." 






*Max Gehringer - Administrador de empresas e escritor, 
autor de diversos livros sobre carreiras e gestão empresarial

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A memória e o recordar Pequeno ensaio sobre conteúdos e capacidades Renato Dias Martino





A recordação é sinal de que certa experiência emocional foi bem sucedida, enquanto a memória não passa de dados registrados e armazenados sobre uma realidade que ficou no passado e que pouco se confirma no hoje. Não seria nem um absurdo propormos então que, a recordação é estar ligado ao passado pelo amor (sinal de gratidão), enquanto a memória é mantida pelo medo de errar ou a culpa por ter errado (gerador de inveja). A habilidade com a memória pode fazer do sujeito uma pessoa muito inteligente, mas a sabedoria só ocorre naquele que cultiva boas recordações.




*http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/
  Renato Dias Martino

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

 Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida.

(Raul Seixas)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Morrer sem ódio



Prometa,
prometa neste dia,
prometa hoje,
enquanto o sol paira
bem no zênite,
prometa:
Mesmo que eles
te derrubem com uma montanha de ódio e violência;
mesmo que eles te pisoteiem e estripem,
lembre-se, irmão,
lembre-se:
o homem não é nosso inimigo.
A única coisa adequada a ti é compaixão –
invencível, ilimitada, incondicional.
O ódio jamais permitirá que você encare
a besta no homem.
Um dia, quando você encarar sozinho essa besta,
com sua coragem intacta, seus olhos bondosos,
imperturbáveis
(mesmo que ninguém os veja),
de seu sorriso
irá desabrochar uma flor.
E aqueles que o amam
vão te enxergar
por dez mil mundos de nascimento e morte.
Sozinho de novo,
seguirei determinado,
sabendo que o amor se tornou eterno.
Na estrada longa e dura,
o sol e a lua
continuarão a brilhar.

Thich Nhat Hanh (Vietnã, 1926 ~)
“Recommendation” (poema de 1965)